Chovia como dezembro nunca vira. Lá fora os pingos formavam caminhos depois de encontrar o vidro da cafeteria em que estávamos. Nas ruas havia muitos guarda-chuvas correndo para lá e para cá, levando seus donos à suas tarefas, reuniões e compromissos quaisquer. A chuva caía e parecia não ter hora para parar. O frio era robusto, e era possível notar com perfeição o vapor que saía dos copos de café.
Quando me virei do balcão com os copos na bandeja — que continha dois chocolates quentes e dois cafés duplos —, ela me observava com seu tímido sorriso. Embaraçado, mas espontaneamente, o retribuí. Sua beleza era algo que eu jamais pudera imaginar; e aquele sorriso, ah... Mas era real, e ela estava comigo.
Abrira o guarda-chuva e saímos. Ainda que o guarda-chuva não nos coubesse por inteiro, protegia-nos ao menos a parte superior, além dos cafés. Enquanto nos molhávamos um pouco, trocávamos olhares seguidos de sorrisos — a felicidade parecia invadir-nos, mesmo com o dia fosse cinza e chuvoso —.
Chegamos ao apartamento um pouco molhados. Nada que fosse atrapalhar aquele dia. Depois de nos secar, sentamo-nos lado a lado, e nossos olhares trocavam confidências que só o silêncio podia ouvir. Com a lareira em pleno fogo, os quatro garotos de Liverpool tocando — era a banda preferida dela —, e nossos cafés em mãos, ficamos por horas e horas conversando, sorrindo, nos encantando e vivendo completamente a parte de tudo que acontecia. Enquanto o mundo lá fora corria, havíamos, ali, criado um mundo completamente particular, onde as horas não faziam questão de passar, e nós muito menos.
Quando a noite caiu, ainda com o frio e a chuva forte que nos agradava muito, ela havia adormecido em meus braços, após tantos sorrisos e palavras trocadas. Eu respirava com o máximo de cuidado para evitar que ela acordasse com o movimento. A luz da lareira iluminava o rosto dela, deixando com que eu pudesse observar aquele lindo rosto que me fascinara e me entorpecera como nunca acontecera antes.
Enquanto eu continuava a observá-la, um leve sorriso — daqueles bem discretos — formou-se em meu rosto, enquanto eu agradecia por ela, repentinamente, haver aparecido em minha vida. Havia sido um dia perfeito: chuva, frio e ela. Ela... Se existe sorte, sorte era poder tê-la em minha vida. E à medida que a noite mantinha-se fria e chuvosa, dei-me conta de uma coisa: eu a amava.